Sem categoria

SEMINÁRIO INTERNACIONAL – OPINIÃO por VAGNER SEBASTIÃO SPERONI

Primeiro Seminário Internacional dos Oficiais de Justiça

O dia a dia nos aprisiona. As tarefas, obrigações, preocupações diárias, sem que possamos perceber, nos aprisionam e se transformam em grades, fazem com que comecemos a enxergar a vida apenas pelas suas frestas. Profissionalmente também é assim: são tantos mandados, tantas cobranças, audiências, a tensão da rua, viver em meio aos conflitos da sociedade, e a tudo isso soma-se, ainda, a pressão que encontramos dentro do próprio judiciário, de todos os lados (pressão que muitas vezes beira o assédio moral). Enfim, amigos oficiais, ser oficial de justiça realmente não é fácil: é para os fortes.

Todavia, às vezes é preciso sair dessa gaiola, ou ao menos tentar sair. E foi isso que aconteceu em Brasília nos dias 04 e 05 de abril de 2019: conseguimos abrir a porta da gaiola, deixar as pressões e cobranças para trás, para, enfim, viver um pouco, mesmo que por alguns instantes, em liberdade, respirando ar puro, fresco e renovado.

Encontrar-se com colegas de todo o país, e de mais 14 países do mundo, realmente é libertador. Libertador porque vemos que compartilhamos os mesmos desafios, os mesmos problemas, que apenas se transmutam conforme pequenas nuances locais. Vemos, ainda, que estamos numa caminhada na qual alguns já estão mais adiantados, como os europeus, que, através da União Internacional dos Oficiais de Justiça (UIHJ) buscam um alto nível de qualificação para os profissionais, e já atuam em órgãos internacionais de suma importância, como o Banco Mundial, a ONU, a cúpula da União Europeia. Vemos, também, que existem locais, como em Uganda, onde os oficiais sequer têm um estatuto profissional. Outros, aqui perto, no Paraguai, sequer tem uma associação de oficiais de justiça.  

Nesse espectro, tomamos consciência de que estamos entre esses dois extremos, junto com os colegas chilenos, uruguaios e argentinos. Argentinos que, aliás, têm tantas semelhanças com a nossa realidade que chega a nos surpreender. Saindo da nossa pequena gaiola cotidiana, e percebendo essa longa estrada na qual estamos inseridos, somos presenteados com uma grande sensação de pertencimento, afinal, estamos todos caminhando para o mesmo destino. Pertencimento que, conforme nos declarou o Sr. Marc Schmitz, presidente da UIHJ é de suma importância para nossa sobrevivência, pois advogados, juízes e promotores são um grupo numericamente muito maior que o dos oficiais de justiça.

E qual é esse destino para o qual todos nós estamos caminhando? É exatamente esse o ponto mais desafiador e intrigante dessa nossa caminhada nos dias de hoje: saber para onde estamos indo. Mas, antes de nos fazermos esse questionamento, devemos nos colocar outras questões: quem somos nós? O que é ser oficial de justiça nos dias de hoje? O questionamento sobre nossa essência, sobre nossa identidade, é de vital importância para nossa sobrevivência. Vivemos uma crise de identidade, e em consequência disso vivemos uma crise com relação às nossas perspectivas de futuro.

Para quem está na caminhada, para quem está na estrada, algumas respostas já se desenham no horizonte. Mas para todos que estão nessa grandiosa jornada, já há uma certeza bem definida: somente saindo de nossas pequenas gaiolas, às quais muitas vezes somos aprisionados sem que sequer percebamos, poderemos ir ao encontro das respostas. Conforme nos ensinou de forma magistral o presidente da União Africana dos Oficiais de Justiça, Sr. Alain Gabriel Ngongang Simé, temos muitos limites externos a superar, mas precisamos mais é superar nossos limites internos!  É preciso caminhar, é preciso conhecer quem somos, é preciso conhecer nossos colegas, da mesma comarca, das comarcas vizinhas, do estado todo, de todo o país, do mundo todo. Pois embora o conceito da nossa profissão esteja em forte transformação, a profissão é formada pelo conjunto, e não por um de nós apenas. Sozinhos, somos apenas trabalhadores perdidos e confusos pelas transformações tecnológicas que o mundo contemporâneo nos impõe. JUNTOS, E SOMENTE JUNTOS, SOMOS OFICIAIS DE JUSTIÇA.

 

Vagner Sebastião Sperone

Brasília, 07/04/2019.

João Paulo Rodrigues

Jornalista (MTE 977/AL), Mestre em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Autònoma de Barcelona.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo