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Oficial de Justiça de Rio Claro usa férias para ajudar em tragédia no RS

Em um gesto de profunda cidadania e altruísmo, Ivana Quintal, Oficial de Justiça de Rio Claro, decidiu transformar seu período de férias em uma oportunidade para prestar auxílio às vítimas das devastadoras enchentes no Rio Grande do Sul. Aos 59 anos, Ivana renunciou do seu merecido descanso para socorrer tanto pessoas quanto animais em uma das maiores tragédias naturais recentes do Brasil.

Ivana comprou uma passagem de ônibus rumo a Porto Alegre e embarcou sozinha numa viagem que durou 22 horas. Tudo corria bem até que precisou desembarcar do veículo, já que o trajeto ficou interrompido devido às cheias na região. 

Depois de recorrer à algumas caronas, Ivana chegou à cidade de Canoas, onde seu trabalho voluntário na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) fez uma diferença significativa. 

Na cidade, a Oficial de Justiça ajudou de diversas formas. A primeira delas foi na produção de alimentos para os desabrigados. “Trabalhei numa cozinha de gastronomia cedida para produção de marmitas. Fazíamos muitas marmitas. No último dia que trabalhei lá nós fizemos doze mil marmitas”, relatou.

Em seguida, Ivana se dedicou ao resgate de animais feito de barco e nos cuidados desses animais num dos pontos do abrigo. “Eu limpava baia, dava ração, água, levava para o veterinário quando precisava. Porque eu fiquei num setor chamado de internação. Só nesse setor tinha 350 cachorros; a maioria sem donos ainda. Uma vez ou outra aparecia um tutor fazendo reconhecimento. E era uma festa quando encontrava seu bichinho de estimação”, contou.

De acordo com Ivana, o fato de ser Oficial de Justiça a fez perceber a necessidade não apenas de ajudar com o trabalho braçal, mas também buscar ser uma boa ouvinte e acolher os desabrigados. “No dia a dia, como Oficial de Justiça, nós não só entregamos mandados e cumprimos as ordens judiciais, como também ouvimos as pessoas. Porque quando você está em contato com o outro, ele te relata a situação, as dificuldades, a gente fica como ouvinte e isso já traz um acolhimento para as pessoas. E assim foi lá no sul. Eu fiquei junto com os desabrigados em Canoas. Eu até poderia ter ficado em hotel, mas eu achei que seria mais útil eu ficar junto com eles justamente pra isso também, pra ser uma boa ouvinte. E foi o que aconteceu”, descreveu.

Por fim, Ivana frisou destacou o fundamental que a categoria dos Oficiais de Justiça desempenha na sociedade e a sensibilidade desses servidores para lidar com situações nas quais o lado humano requer atenção. “A categoria está sempre sensibilizada. É uma profissão que está em contato direto com as pessoas. E a gente se sensibiliza com as tragédias individuais e coletivas”, destacou.

Ao retornar para casa no fim de semana, no avião da FAB, já que precisaria voltar ao trabalho em São Paulo, Ivana refletiu sobre sua experiência com um misto de emoções. “Eu fiz o que deu pra fazer e o legal que é que tá todo mundo fazendo o quanto e como pode. Somos todos um. Esse foi meu aprendizado nesses dias que estive no Sul. Não existe só aqueles que estão perto de nós, nossa família, amigos. Quando nos damos a chance de sair da bolha, amplia tudo, você se põe no lugar do outro, compartilha do sentimento alheio, e aí vem força, coragem, vontade de dar o melhor de si”, finalizou.

João Paulo Rodrigues

Jornalista (MTE 977/AL), Mestre em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Autònoma de Barcelona.

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